Nunca gostei de crucificações

E como tal, incomoda-me a perseguição a Fernando Ulrich. Isto é, trata-se notoriamente de uma pessoa sem grande capacidade de comunicação, alguém que diz o que pensa sem ter o cuidado de pensar nas repercussões. 

Fui o primeiro a censurar Ulrich quando disse que o país aguentava mais austeridade. E fui mais uma vez o primeiro a apontar o dedo quando voltou à carga, fazendo pior emenda que soneto. Exprimiu-se pela sua própria imagem, sem olhar aos sacrifícios que muitos portugueses fazem para pôr comida na mesa, da primeira vez. Da segunda, tentou explicar que o “aguentar” a que se referia, não significava forçosamente “aguentar em boas condições”. Eu entendi as suas palavras, na medida em que quis exprimir que se a economia por aí se direccionar, que remédio temos que aguentar como se pode. Simplesmente não o disse da melhor forma, nem tem plena consciência que não é a pessoa certa para o dizer, visto estar ele no comando de um banco que recebeu dinheiro que devia ter sido usado em fins mais nobres e úteis. E visto receber ele um ordenado mensal que a maior parte dos portugueses não ganha durante uma vida de trabalho. É certo que sim. 

Mas dará isso o direito a pessoas como Ana Drago, que até tenho em boa conta, de questionar o ordenado que ele aufere? Até onde sei, um ordenado não é negociado unilateralmente, tem que haver alguém disposto a pagar o que alguém quer receber. E se o BPI aceitou pagar-lhe a quantia em questão, quem somos nós para pôr isso em causa? Quantos de nós recusaríamos um ordenado assim, se nos fosse proporcionado? Porque raio temos então que julgar, apontar dedo, julgar? Faz-me espécie e faz-me confusão.

E sim, odeio verdadeiramente aquele último pontapé que todos insistem em dar no corpo moribundo que, estendido no chão, já foi castigado pelas suas acções. Porque é sempre mais fácil apontar o dedo ao vizinho que olhar para o próprio umbigo.

7 thoughts on “Nunca gostei de crucificações

  1. carol diz:

    Bom. Muito bem dito, ou escrito. Concordo em pleno com esta opinião e finalmente que leio algo construtivo sobre este assunto. Obrigada.

  2. Eu acho que enquanto houver pessoas como o Ulrich a esfregar-nos na cara que temos de passar sacrifícios, enquanto ele não contribui em NADA para a mudança, acho que sim, que podemos dar-lhe o último pontapé.

  3. Lia diz:

    Eu concordo com a MJ. Este quase ao nível do excelentíssimo PR aquando da sua “queixa” de falta de dinheiro para despesas. É malta a falar de ‘barriga cheia’. Quanto a Ana Drago ter questionado o salário do senhor, foi precisamente para salientar isto mesmo; e acho bem que o tenha feito. (Já agora, eu nunca tive voto na matéria de quanto iria ser o meu ordenado. Ando a trabalhar para malta unilateral)

  4. Isso é quase como querer saber se o ovo nasceu primeiro do que a galinha ou vice-versa. É óbvio que se o senhor Ulrich, ou outro comum mortal qualquer, tem quem lhe pague uma soma avultada, ele aceita pois claro. Estranho seria se ele pedisse para lhe baixar o salário. Agora que o timing e a forma como ele se expressou caiu mal (para não dizer pior), lá isso caiu. Eu, por exemplo, disponibilizei-me logo a trocar com ele durante uns tempos..

  5. Uba diz:

    Entendo o que queres dizer. Mas esta malta tem de pensar bem antes de falar, dado a posição que ocupam na sociedade. Porém dizes bem, sempre odiei crucificações. Já com a Pepa foi igual. (a da mala chanel, que nem sabia que existia até ao dia da controvérsia!)

  6. Maria Misteriosa diz:

    Quanto maior é a posição social e económica de uma pessoa maiores são as suas responsabilidades para com a sociedade. Se o Sr. Ulrich tem problemas de comunicação/expressão então só pode ter duas atitudes:
    1ª Cala-se e pede ao banco para lhe contratar um assessor de imprensa;
    2º Usa um pouco do seu huge salary to increase his skills e faz um workshop na área da comunicação.e aí sim já poderá expressar-se accordingly.
    Quanto á Ana Drago…é uma idiota.

  7. Eva Maria diz:

    Se fossemos crucificar-nos uns aos outros cada vez que falamos meio sem pensar já nao havia pregos que restassem.. entao eu devia parecer uma gaja cheia de piercings 😛

Deixe uma resposta para carol Cancelar resposta