Foda-se

Fodamos então. Porque sim, nunca fez mal. Na verdade nada te vai animar mais que uma foda, prometo. A palmadinha nas costas é porreira, sim. O ‘deixa lá’ e o ‘vai correr bem’ também são simpáticos, tenho que concordar. Deixa lá, vais ver que vai correr tudo bem. Vê se este abraço é bom, e aqui o beijo claro que sabe bem. Mas esta foda? Esta foda é ouro. Esta foda é alimento. É ânimo. Força. Determinação, coragem. Raiva, ódio, agressividade, ferocidade, maldade pura. Não há doença que te pare, palavras que te doam, cara que te assuste, incerteza que te roa nem pressão que te afecte, nada, não há filho da puta neste mundo que te chateie quando estás a ferver de dor e a, e a… Explodir de raiva.

Eventualmente e inevitavelmente tudo acaba. Tudo, até isto. Vê… Os teus familiares voltaram a ficar doentes, o meu amigo voltou a morrer, o meu telemóvel tornou a tocar e foda-se, já chove outra vez. Mas foda-se, ainda assim.

Acordo das profundezas

… Depois de mais um duríssimo festival Paredes de Coura. Nunca estou pronto, e eu me confesso, para quatro dias de tanta violência autoimposta.

Nunca vos disse, mas este evento marca anualmente a minha entrada para o maravilhoso mundo das férias – o que por si só já é um motivo de muito êxtase e muita alegria, mas também o meu ritual de completo isolamento do mundo durante quatro dias a fio. Quatro dias de telemóvel desligado, a acordar, beber, comer, mergulhar no rio, fumar estupefacientes de várias origens, fumar cigarros meus e cigarros cravados, ver concertos bons e maus, e tentar dormir qualquer coisa. Ou seja, tudo o que um homem pode pedir a nível de retiro espiritual dentro da categoria “a menos de 50km de casa”.

Agora a parte má: se há coisa que não gosto… É música electrónica. E gosto ainda menos quando pago um bilhete para um festival de rock, com a inocente presunção e intenção de ver concertos de rock. Vou a Paredes e não vou ao Sudoeste por algumas razões bem identificadas:  porque não gosto de música electrónica – um, e porque os putos e pitas com respectivamente tesão de mijo e pito aos saltos a modos que me irritam um bocado – dois. Se vou a Paredes e não ao Sudoeste é porque quero um festival a sério e não uma merda mal amanhada, com meia dúzia de nomes famosos lá na terra deles e na escola secundária mais próxima, que ninguém conhece nem tão pouco quer conhecer, a actuarem em palcos gigantescos onde tocam músicas gravadas no computador para uma multidão de putos ao rubro. Não tenho nada contra a música electrónica e quem dela gosta, rogo apenas que não invadam com ela o espaço cá dos velhotes habituados à boa velha música que faz cansar os dedos, braços e pernas de quem a toca.  Os velhinhos vão a Paredes porque querem guitarras, solos, riffs, baterias, linhas de baixo, crowd surfing, vocais, grouppies. Tudo a que têm direito, tão só e tão apenas Rock. E nada de DJs-xpto-overflow-light-super-strobe.

Então como está tudo?

Ora viva, caros e caríssimas, como está tudo? Sentiram a minha falta? Não? Oh diabo…!

Mas é verdade, aqui o primo foi de ‘biaige’ e acaba de voltar, agora que é mês de Agosto e é tempo da emigração vir à terra,  tal e qual pardal ao ninho. Mas não eu, não eu, estou a mentir, o mais longe que fui ultimamente foi Paris e ainda foi no tempo do frio. Mas pronto, sendo assim cá estou de volta ao velógue, para valer.

De novidades nada de especial, tirando o facto de esta semana não ter ganho para o susto. Um electrocardiograma numa consulta de Medicina no Trabalho deu lugar a um exame de Holter (ECG durante 24h), que por sua vez confirmou as suspeitas anteriores do primeiro ECG – um bloqueio no coração, o meu enorme coração. Não fazia ideia, mas estes bloqueios acontecem durante a noite e são, de forma reduzida, uma paragem dos choques cardíacos. No caso, o normal seria que a ciclo entre dois choques durasse 1,3 segundos, mas somehow na altura dos bloqueios os meus choques tinham intervalos de 2,5 segundos. Posto isto, truca-truca ao médico mostrar o exame, e a Sr. Dra. veio-me com a conversa que tal e coiso, se calhar isto ia ser impeditivo de voltar a praticar desporto com a intensidade que o estou a fazer. E claro, escusado será dizer que fiquei logo pior que estragado, cagarolas como sou. Entretanto lá me mandou fazer um ecocardiograma, para que realmente se pudesse confirmar se havia ou não alguma anomalia, defeito, enjeito ou tragédia grega. Lá vai ele e tal (borrado de medo, evidentemente), e entretanto este Sr. Dr. lá me apareceu que nem santo, diz-me que nada se passa e tudo se consome e que estou rijo e vergalheiro, pronto para muitas corridas, muitas saídas de BTT, o que quisesse. Deus desceu à terra e deu-me um sinal!, tenho que fazer da minha vida utilidades várias, tenho que fazer valer. E por isso cá estou de volta ao blog, porque quem sabe amanhã o Primo não vai desta para melhor e ospois vocês bem sabem, seriam sábias e doutas palavras desperdiçadas pela preguiça.

PS: Ah, aquelas derrotas do Benfica também serviram para me desanimar. Passei 3 dias a chorar na cama, enrolado a um cobertor e a uma caixa de Milka, com o rádio a tocar baladas e a tv a passar porno dos anos 80. A ver se me animava. É o meu spa. Animei. A modos que. Depois, problemas de coração. Elas pagam-se é neste mundo…

Ando cansado desta vida

Trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho. Fim-de-semana, fim-de-semana. Vira o disco, toca o mesmo. Às vezes pergunto-me porque não nasci num berço de ouro. Ou então num berço de caca. Sim, porque só há dois tipos de pessoas com vidinha santa: os ricaços e os pobretanas. Aposto que se tivesse nascido no Bronx, no Alemão ou na Rocinha, já tinha chegado a casa há muito mais tempo e que amanhã não tinha que me levantar às 8 da manhã para ir trabalhar. Enfim, vidas santas, é o que é.

Where’s the sunshine?

Ainda me custa a acreditar que vem aí o tal fim-de-semana de verdadeira primavera. A temperatura até se vai portando bem, agora esta chuva é que não está com nada. Bem agradeço que venha o bom velho sol, que amanhã quero pôr a bicicleta a romper pneu pelo monte fora, de preferência debaixo do manto amarelo que só o sol sabe proporcionar.

Bom fim-de-semana, mes amis!

E agora que se foi a Dama de Ferro?

Agora a nossa Thatcher, ou a Manuela Ferreira Leite para quem não pescou a comparação, é oficialmente a rainha da laca no mundo da política. Isto são grandes notícias, mesmo depois do nosso “Hot Jesus” a fazer furor em Hollywood.

E mais, só não ocupa ainda o lugar cimeiro entre o grupo das mulheres na política que se esforçam por ser ainda menos atraentes que o Paulo Portas aos olhos de um homem heterossexual porque há sempre a nudista Merkl para marcar posição. Um amor, ela.

Ainda sobre a baronesa, e agora mais a sério, esta situação é (mais uma) prova que a morte melhora significativamente tudo o que fizemos em vida. Afinal de contas… Toda a pobreza, toda a desigualdade social e toda a política insensível que passeou no seu governo neoliberal no Reino Unido deixaram agora de ser mencionados em tempo de antena, em virtude das “qualidades de liderança”, do “punho de ferro”, “da determinação” e da “recuperação económica britânica”, entre outras expressões admiráveis, que operou de forma convicta e exemplar.

Portanto descansa, nosso Gaspar. Também haverá um lugar no céu para ti. E um dia vais ser anunciado com palavras doces, como “o ministro que nos fez regressar aos mercados em 2020” ou um “homem determinado”. Mesmo que nos afundes na merda de um neoliberalismo que destruirá o nosso sistema de Saúde, mesmo que transformes de novo a Educação numa coisa lá das elites e sim, mesmo que nos ponhas a todos a pedinchar emprego por essa Europa fora como saltimbancos de uma qualquer espécie inferior. Mesmo assim. Um dia vais ser aplaudido, nosso Gaspar.

Moody way

(Atticus Fetch) How do you do it Hank? The woman you love is out there, and you know you can’t have her. How do you even get up in the morning…?

(Hank Moody) Well… Booze is always helpful, and so is the art. Everything i write is for her or about her, so i’m with her… Even when i’m not.

Toca a campaínha

– Boa tarde, posso ajudar?

– Err… Vinha cá a ver se me carimbava aqui o papel para o desemprego, a mostrar que vim cá procurar trabalho!

– Ora muito bem, então o senhor precisa de trabalho, não é verdade?

– Err… Trabalho não, preciso é do carimbo. E da declaração.

Ainda perguntam o que há de errado com este país?

Parolões, pá!

Reparei esta semana que a blogosfera, o facebook e o twitter se levantaram em protesto (dizem que está na moda) contra este vídeo do Turismo de Portugal, que enaltece uma das nossas nobres características, a hospitalidade. Por falta de tempo ou oportunidade, só consegui atirar-lhe os olhos hoje.

Pois bem, parece que público em geral e bloggers em particular acham que isto é um incentivo à subserviência e à criadagem. Como se houvesse algo de mal em fazer bem o seu trabalho (no caso de quem é pago para o fazer, nomeadamente empregados de mesa, guias ou professores de surf) ou simplesmente entrar numa de se entreter com um grupo de estrangeiros, como fez ali no caso a Ana (por onde andam as Anas desta vida quando eu estou perdido?), que levou os gajos a sair? Mas que possível forma de subserviência pode advir disto, senhores? Não que tenha particular razão de queixa – tirando um ou outro caso sempre fui bem tratado por onde passei, mas ainda assim quem me dera a mim encontrar gente como a nossa de cada vez que saio do país. Neste caso em especial, onde muita gente vê ‘rameiras’, ‘gigolos’ e ‘criados’, eu vejo tratamento personalizado e especializado, perfeccionismo e brio. Ok, talvez a cena do beijo fosse escusada, mas ainda assim entende-se bem o propósito.

Entendo honestamente que neste ponto uma tal crise (a de valores, não a financeira) que atravessamos nos tolda a visão, nos enche de complexos e nos faz sentir inferiores aos outros. Noto isso no futebol, porque o craque que vem de fora é à partida melhor que o que é nosso. Noto isso no entretenimento e nas artes, porque se a banda é inglesa então é automaticamente melhor que estes portuguesinhos a brincar aos instrumentos. Noto isso no turismo, porque se for uma aldeia escocesa é lindíssima e cheia de força espiritual mas se for uma aldeia de Trás-os-Montes é velha, aborrecida e saloia. Nota-se em tudo. O português quer ser ‘big’, quer ser ‘awesome’ e quer ser, basicamente, a merda de um americano. Não quer ser português, porque ser português é parolo, é pequeno, é ter pouco impacto. Por isso renega aos seus valores básicos, recrimina quem os reproduz e aponta o dedo a quem faz algo pela alma portuguesa, porque é um parolão que se vê logo que não sabe como fazem os franceses e os alimães e os suiços, fora no Luxamburgo que aí é que é. Nós aqui é que somos uns parolões que não sabemos mais e pronto, cá andamos.

Deixem-se de merdinhas, a sério. Somos portugueses. Não temos que aceitar lições de ninguém, rebaixamento de ninguém nem humilhação de ninguém. A nossa história é maior que a de qualquer nação mundial. Portanto vamos lá saber estar à altura dessa história e à altura de quem (ainda) nos procura. Vamos fazer jus ao que dizem de nós e ao que procuram em nós, porque nós sabemos fazê-lo como poucos.

Boa comida, check! Sol, check! Gente bonita, check! Hospitalidade… Check.

E o “para sempre” é mesmo para sempre?

Marina Abramovic é uma artista plástica e performer, por sinal bastante conhecida e bastante controversa. Ulay é também um artista plástico e performer, sobretudo conhecido pelos anos em que passou com Marina.

Nos idos 70s, Marina conheceu, namorou, trabalhou e viveu com Ulay, com quem partilhou 13 anos de performances artísticas e de amor, vivendo ambos numa carrinha mundo fora. Um dia decidiram tomar rumos diferentes, tendo por então acordado entre si percorrerem a Muralha da China, começando um em cada extremidade até se encontrarem a meio, para partilharem um último abraço e seguirem as suas vidas. Depois de 2.500km percorridos, cada um, lá se encontraram a meio, cingindo-se apenas a partilharem um “adeus” para sempre.

Já em 2010, e quando Marina é já muito famosa e admirada, o Museum of Modern Art de Nova Iorque exibe uma espécie de best of da sua obra. No local, Marina partilha um minuto de silêncio com cada pessoa que se sente a sua frente. Inesperadamente, e sem o conhecimento de Marina, sentou-se Ulay.

E então, aconteceu isto. A carga emocional sente-se, transmite-se e materializa-se como uma agulha afiada furando à face da pele. Um momento tremendo.